Um café com… André Fradinho, Supply Chain Managing Director na Aldi
Empack e Logistics & Automation Porto: Fale-nos de si e do seu trabalho. Como é o seu dia a dia na Aldi. Quais são as funções que desempenha?
André Fradinho: Enquanto responsável por toda a cadeia de abastecimento da ALDI, a minha principal função é assegurar um fluxo eficiente de mercadorias, desde a porta dos nossos fornecedores até às prateleiras das nossas lojas. Este fluxo passa pela devida coordenação das equipas de planeamento, isto é, aquelas que são responsáveis por decidir as quantidades certas de mercadoria a movimentar nas diferentes fase da cadeia; e as equipas de logística e transporte, que asseguram essa mesma movimentação. A junção destes dois mundos tem, obrigatoriamente, de resultar numa experiência de compra inesquecível e ao menor custo possível nas nossas lojas, sendo esta última característica importantíssima para nos mantermos fiéis ao nosso modelo discount.
Em paralelo, e não menos importante, o meu papel passa por sermos capazes de entregar, de forma contínua, mais valor ao nosso processo de abastecimento. Este valor é materializado na constante revisão de processos e na agregação de inovação e tecnologia nos mesmos; na antecipação de eventuais disrupções (internas ou externas) na cadeia de abastecimento; e, por fim, desafiando-me a mim e à minha equipa a manter viva a paixão pelo que fazemos. Se conseguir assegurar este último ponto, todos os outros serão uma consequência natural.
Empack e Logistics & Automation Porto: Tendo em conta a sua carreira profissional no mundo da logística, quais foram, na sua opinião, os maiores desafios que enfrentou e quais os projetos que recorda ou que destacaria na sua carreira profissional?
André Fradinho: Com mais de uma década de experiência na área de Supply Chain, foram vários os desafios que já enfrentei. No início da minha carreira, e enquanto gestor de stocks de uma empresa de telecomunicações, fui responsável pelo aprovisionamento de um conjunto de artigos core para a organização que tinham um tempo de entrega superior a nove meses. Foi um verdadeiro desafio antecipar a sua procura e fazer a devida gestão do mesmos.
Porém, mais tarde, decidi enveredar pelo mundo do retalho alimentar, que me trouxe novas aprendizagens e desafios, a uma escala diferente, e onde me foi dada a oportunidade de iniciar novos projetos. Nomeadamente, e 15 anos depois de ter iniciado a minha atividade nesta área, fui o responsável por criar o departamento de Supply Chain na ALDI Portugal. Redesenhar processos, recrutar, formar e criar uma equipa que é hoje uma referência dentro da nossa organização foi, sem dúvida, o maior desafio de toda a minha carreira.
A par deste grande desafio, existiram, claro, outros momentos exigentes que marcaram o meu percurso na ALDI e que hoje destaco, como a migração de toda a nossa operação logística para o nosso novo Centro de Distribuição na Moita, em 2022, que estava distribuída por três pontos de stock distintos. Esta foi uma operação de elevada complexidade, uma vez que tínhamos apenas um fim-de-semana para deslocar 10.000 paletes, sem deixar de abastecer, em simultâneo, as nossas lojas. Realizar um projeto desta dimensão, sem criar impacto operacional, foi efetivamente uma grande vitória e um motivo de orgulho para as nossas equipas.
A migração do nossos sistemas para SAP e a implementação de um sistema automático de encomendas em loja – que centralizou esta função no departamento de Supply Chain, ao invés de ser desempenhada em loja – foram outros dois desafios que recordo, não só pela parte técnica, mas sobretudo pela gestão da mudança organizacional, uma vez que, como sabemos a transformação digital não é sobre tecnologia, mas sobre pessoas.
Empack e Logistics & Automation Porto: Qual é o compromisso da Aldi com a sustentabilidade, que mudanças implementaram e que mudanças esperam implementar num futuro próximo?
André Fradinho: Enquanto empresa do setor alimentar com presença a nível internacional, sabemos a responsabilidade que temos para com os nossos clientes, fornecedores e parceiros de negócio. Tornar as nossas cadeias de abastecimento resilientes e aptas para o futuro é, portanto, uma prioridade assumida.
Assim, perante os desafios das alterações climáticas, dos recursos naturais limitados, perda de biodiversidade e da procura crescente e em constante mudança, atuar de forma sustentável para a ALDI não é uma opção, mas sim uma abordagem estratégica. O trabalho de sustentabilidade do Grupo ALDI Nord, do qual a ALDI Portugal faz parte, assenta em quatro grandes áreas – proteção climática, cadeias de abastecimento responsáveis e sustentáveis, embalagens mais amigas do ambiente e combate ao desperdício alimentar – sendo que, nestas quatro áreas, são definidas e implementadas medidas e ações que os clientes podem encontrar e observar nas nossas lojas e Centro Logístico.
Face ao exposto, posso destacar que, na ALDI Portugal, o compromisso para com a sustentabilidade é uma prioridade central. Já implementámos diversas iniciativas para reduzir a nossa pegada ambiental, entre as quais a otimização do uso de energia no nosso Centro de Distribuição, onde hoje já somos independentes a nível energético em todo o período diurno. Paralelamente, implementámos também um plano de otimização da nossa frota, que nos permitiu reduzir as nossas emissões carbónicas em mais de 1.200 toneladas de CO2 em apenas um ano. Por último, de salientar que fomos também o primeiro retalhista alimentar, no mercado português, a adotar veículos elétricos na sua frota.
Empack e Logistics & Automation Porto: De acordo com o seu ponto de vista e a sua experiência, quais são, na sua opinião, os 5 pontos-chave que marcarão a logística do futuro?
André Fradinho: Existem várias tendências que acredito que marcarão o futuro, como é o caso da automação e da inteligência artificial. A adoção de tecnologias avançadas, como robótica, drones e sistemas de inteligência artificial, irá revolucionar as cadeias de abastecimento. Acredito que as primeiras sub-áreas que irão ser alvo de uma grande revolução são os modelos de previsão de procura, e respetivos sistemas de abastecimento, com a incorporação de machine learning, a otimização de rotas e a identificação proativa de disrupções na cadeia. Todas estas alterações farão com que as operações se tornem obrigatoriamente mais ágeis, baratas e flexíveis.
Além disso, a big data e a análise avançada, isto é, a capacidade de armazenar, analisar e interpretar grandes volumes de dados está – e continuará – a transformar a tomada de decisão. A capacidade de desvendar e, acima de tudo, antecipar padrões de consumo e tendências de mercado vai mudar por completo o planeamento. Este será decididamente mais rápido, com maior valor acrescentado e será uma peça fundamental no S&OP.
Por outro lado, e como já referido, a sustentabilidade continuará a ser um pilar central na logística do futuro, com as empresas a implementarem cada vez mais práticas ecológicas em toda a cadeia de abastecimento, de forma a reduzirem a sua pegada e promoverem a economia circular. A responsabilidade ambiental não será apenas uma obrigação regulatória, mas também um diferencial competitivo.
A par disto, a capacidade de responder rapidamente a mudanças e interrupções no mercado será crucial, e exigirá uma logística resiliente e adaptável, levando a que as empresas invistam em soluções que garantam a continuidade dos negócios, como a diversificação de fornecedores, flexibilização de contratos e desenvolvimento de estratégias de contingência. Tudo isto levará igualmente a que os profissionais de Supply Chain se mantenham em constante evolução e que se dotem das competências necessárias – que serão diferentes das atuais – para enfrentar os desafios futuros e contribuir de maneira significativa para o sucesso das suas empresas.
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